A CONSTRUÇÃO DE AMBIENTE FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO ARRANJO MOVELEIRO DA REGIÃO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Maria Elisabeth Gonçalves Ribeiro Rangel

Resumo


O artigo tem como objetivo analisar as interações das micro e pequenas empresas de um arranjo produtivo moveleiro com o ambiente, a partir das condições socioeconômicas desse ambiente e das relações favoráveis ao desenvolvimento do arranjo, as quais possam se formar pela adaptação das empresas e pela transformação do ambiente. Primeiramente é analisado o ambiente do arranjo produtivo sob a ótica dos benefícios das externalidades geradas pelo Arranjo Produtivo Local (APL), realçando a importância da identidade territorial e do capital social como fatores subjacentes das interações organizacionais. Em seguida são descritas as condições e limitações em que micro e pequenas empresas estão organizadas no arranjo produtivo, usando como parâmetros os níveis de dificuldades enfrentados na operação das empresas, na formação e situação atual, em 2013. No que se refere ao desenvolvimento das empresas são analisadas as dificuldades de operação das empresas dentro do arranjo e a percepção dos empresários e gestores institucionais sobre a vantagem de se pertencer ao um arranjo produtivo. Foram verificadas as trajetórias e perspectivas do arranjo sob a ótica de construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento das MPE’s. O artigo discorre sobre as condições existentes e a serem construídas em ambiente de arranjo produtivo local, tendo em vista o desenvolvimento e a sustentabilidade de micro e pequenas empresas.

A análise dos dados foi feita considerando a perspectiva da Teoria da Complexidade, na qual as empresas são vistas com capacidade para auto-organização e transformação do ambiente. A pesquisa adotou uma metodologia qualitativa, com o tratamento simples de alguns dados quantitativos, e foi realizada no ano de 2013, envolvendo 12 proprietários de empresas do segmento mobiliário, localizadas em cinco municípios da Região Oeste de SC, e com 03 gestores de instituições de apoio do arranjo produtivo. Os resultados mostram as percepções de empresários e gestores institucionais sobre a influência do arranjo no desenvolvimento das empresas. Sendo destacada como maior vantagem oferecida pelo arranjo: a aprendizagem, a atualização e inovação tecnológica, a participação em feiras do segmento e decisões do setor. E como vantagem menor: as relações horizontais de produção entre as empresas moveleiras e madeireiras na divisão do trabalho do processo produtivo e as interações com instituições financeiras, para melhor gerenciar o capital de giro e empréstimos. Isso aponta para o reconhecimento de possibilidades favoráveis evidentes no ambiente do arranjo produtivo, proporcionadas pela ação institucional e pelo potencial empreendedor da região, contudo, podem ser percebidas ações dispersas, muitas vezes influenciadas por agentes externos que impedem o fortalecimento de uma visão coletiva do meio empresarial, o que pode comprometer as interações e a construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento do arranjo produtivo.


Palavras-chave


Arranjo produtivo local; ambiente complexo; interação organizacional; desenvolvimento de micro e pequenas empresas.

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