REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A PRESENÇA DE ETINILESTRADIOL E CAFEÍNA NA ÁGUA POTÁVEL E SEUS EFEITOS SOBRE O ORGANISMO HUMANO

Ellen Martini, Mariana Larissa Dalmann Barboza, Muriel Hamilton Depin, Fernanda Alquini, Ana Flávia Paszcuk Oenning

Resumo


A presença de micropoluentes na água pode causar danos à saúde humana e de animais. Dentre esses, encontram-se os desreguladores endócrinos (DEs), os quais exercem seus efeitos em concentrações de cerca de micrograma por litro (μg/L-1) e, devido a isto, mesmo que parte desses compostos  sejam retirados pelos métodos de tratamento de água convencional eles ainda possuem efeito sobre o corpo humano ou de animais. O estrogênio sintético 17α-etinilestradiol, o qual é utilizado largamente nas pílulas anticoncepcionais, é considerado um DEs. Estudos demonstram que o mesmo pode causar anomalias no sistema reprodutivo, tais como a redução na produção de espermatozóides, infertilidade, puberdade precoce, além do aumento da incidência de câncer de mama, testículo e de próstata. Apesar de já ter sido detectada em água potável, a cafeína não se caracteriza como uma grande preocupação ambiental, pois, sendo uma substância biodegradável, ela se decompõe em compostos orgânicos não prejudiciais que não se acumulam nem na água e nem no organismo humano. Estudos demonstram que a ocorrência de cafeína na água para consumo humano reflete a qualidade da água bruta do manancial e a ineficiência dos processos operantes nas estações de tratamento de água, sugerindo que outras substâncias químicas e/ou microrganismos patogênicos possam estar presentes na água. Sabendo-se que os DEs podem causar alterações na saúde animal, atualmente há um grande interesse no desenvolvimento de metodologias de estudo e novas tecnologias capazes de detectar e remover os DEs dos ambientes aquáticos.


Palavras-chave


micropoluentes; desreguladores endócrinos; 17α-etinilestradiol; cafeína.

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